segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Os suculentos frutos que virão


Lanço ao vento
a semente e um segredo,
sorriso matreiro,
borrifos de sonhos encantadores

sábado, 20 de dezembro de 2008

Sobre a mutabilidade de tudo em tudo...

...Sobre sensatez, eternidade, instantaneidade e a inexistência da perfeição e do real

A Multiplicidade do Real - Paulo Leminski*

Que existe mais, senão afirmar a multiplicidade do real?
A igual probabilidade dos eventos impossíveis?
A eterna troca de tudo em tudo?
A única realidade absoluta?
Seres se traduzem.
Tudo pode ser metáfora de alguma outra coisa ou de coisa alguma.
Tudo irremediavelmente metamorfose!

Eu, o vento - Mário Nhardes**

Que sou calmo e violento, sou vendaval e brisa que a mercê da vida, às vezes sou conforto, às vezes incômodo. Às vezes paz, às vezes caos.

Eu, o vento, que sou incolor e frio, sou calor e sangue, que a mercê da vida, às vezes sou dor, às vezes rotina. Às vezes sou morte, às vezes vida.

Eu, o vento, que sou órfão e só, sou carinho e carente, que a mercê da vida, às vezes sou colheita, às vezes plantio. Às vezes sou notado, às vezes esquecido.

Eu, o vento, que sou força e anemia, sou opressor e vítima, que a mercê da vida, às vezes sou vento, simplesmente.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Fitas de cetim



Rabichos compridos colorindo a vida,
Fitas de cetim
Cartas fechadas, imaculadas, intactas
Segredos não revelados de quem
diz tanto sem nunca dizer
Estilhaço de passado
Estopim de emoções
Damas e reis que não se escondem
em mangas,
Vivem, gargalham, sonham
e por vezes choram,
de saudade...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Uma obra de arte - Pablo Picasso*

Uma obra de arte deve levar um homem a reagir, sentir sua força, começar a criar também, mesmo que só na imaginação. Ele tem de ser agarrado pelo pescoço e sacudido; é preciso torná-lo consciente do mundo em que vive, e, para isso, primeiro ele precisa ser arrancado deste mundo.

* O pintor nasceu em Málaga, em 1881 e morreu em 1973, em Paris. Produziu desde os oito até os noventa e um anos de idade, passando também pela escultura e cerâmica. Entre 1907 e 1908, criou o cubismo, junto com o pintor francês, Georges Braque. Particularmente, não gosto de sua obra, mas sua definição de arte é fantástica.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Modéstia e mediocridade

Modéstia por Arthur Schopenhauer*

"Quem fez da modéstia uma virtude esperava que todos passassem a falar de si próprios como se fossem idiotas. O que é a modéstia senão uma humildade hipócrita, através da qual um homem pede perdão por ter as qualidades e os méritos que os outros não têm?"

Oscar Wilde** e a "indispensável" mediocridade:

"A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre."

*O polonês Arthur Schopenhauer (1788-1860), grande observador do comportamento humano, foi conhecido pelo seu pessimismo. O filósofo que combateu Hegel e influenciou Nietzsche teve como ponto de partidade de seu pensamento, a filosofia kantiana.

**Oscar Wilde (1854-1900) é o autor de"A importância de ser fervoroso", "Salomé", "Balada do Cárcere de Reading", além do célebre romance "O retrato de Dorian Gray". Wilde foi condenado em 1895 a dois anos de prisão sob a alegação de ter "cometido atos imorais com diversos rapazes". Além de consumir sua reputação, o cárcere também acabou por roubar-lhe a saúde.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Não seja o mesmo – Julian Green*

Você sabe tão bem quanto eu,que uma das principais causas do tédio é a estreiteza do nosso destino.Todas as manhãs despertamos iguais ao que éramos na véspera. Ser eternamente o mesmo é insuportável para os espíritos refinados pela reflexão.Sair do próprio eu é um dos sonhos mais inteligentes que um homem pode ter.

*Romancista norte-americano dos mais conhecidos do último século. Green escrevia em francês e, em 1971, foi o primeiro estrangeiro eleito para a Academia Francesa, sociedade literária fundada em 1635 pelo Cardeal Richelieu.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Seja Paciente - Rainer Maria Rilke*

Quero lhe implorar
Para que seja paciente
Com tudo o que não está bem solucionado em seu coração e tente amar.
As perguntas como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira.
Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las.
E a questão é viver tudo. Viva as perguntas agora.
Talvez assim, gradualmente, você sem perceber, viverá a resposta num dia distante.

* Rainer Maria Rilke (1875 - 1926) nasceu em Praga e em 1899 viajou para a Rússia a convite de Lou Andreas-Salomé, de quem especula-se que tenha sido amante. Em 1902 foi a Paris, onde trabalhou como secretário de Auguste Rodin que exerceu grande influência sobre seus poemas publicados entre 1907 e 1908. Sua obra atingiu um profundo existencialismo e influenciou diversos autores.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Poesias, pensamentos e Lou Andreas-Salomé

Seguem alguns posts de textos, poesias e pensamentos que são capazes de me arrancar do chão por instantes. Amo alguns por apreciar a beleza das palavras, outros por traduzirem um pouco de mim e outros ainda porque os considero boas bússolas para viver.

Abro com dois fortes e significativos pensamentos de Lou-Andreas Salomé*.


"Ouse, ouse... ouse tudo! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda ... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!"

"só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser sentido como tal. Assim, nada há de mais inepto em amor do que se adaptar um ao outro, de se polir um contra o outro, e todo esse sistema interminável de concessões mútuas... e, quanto mais os seres chegam ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto de se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, de se transformar um em parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em um solo particular, a fim de se tornar todo um mundo para o outro."


*Lou Andreas-Salomé (1861-1937) foi a bela russa que escandalizou a sociedade e teve entre seus amantes Nietzsche, Paul Reé e Rilke. Conheceu Freud, Jung, Wagner e outros homens notáveis. Romancista e ensaísta famosa, com experimentações na psicanálise, as idéias de Lou sempre refletem sua intensidade.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Nua, secando ao Sol

Um sorriso por ele mesmo,
Sim, dispensei os motivos!
Justificativas desencavadas do barro,
macio, modelável,
suave e sólido,
morno e perfumado
Paixões, formigamento de euforia,
fascinada pela deusa contida em mim
Eu que me derreto em vida,
nua, secando ao Sol,
reinventada!